O dentista
Sua consulta era às 15:30pm. Mas como de costume ele chegou mais cedo para não se atrasar. Péssima ideia. Vai enfrentar a sala de espera por pelo menos 20 minutos. O silêncio toma conta do lugar. Nenhuma alma viva na recepção. Nem água. Banheiro? Faz na roupa. A angústia aumenta e o medo toma conta. Era nítido seu nervosismo. Folheava a revista sem ler ou ver qualquer coisa. Não podia suportar tanta pressão. A perna cruzada não parava de balançar. Deveria ter chamado a mãe para ir junto. Mas aos 27 anos já era hora de encarar seu medo sozinho. Pensava se valia o sofrimento ou se era melhor continuar com aquela dor no dente. Chegou a conclusão que suportava a dor. Resolveu levantar e seguir seu rumo. Mas já era tarde. Uma voz aguda e grossa falou com ele.
- Próximo.
O coração que já estava na casa dos 100 batimentos por minuto, disparou. A perna ficou bamba. Perdeu a força para se levantar. Respirou fundo, contou de um até três e foi. Tentou reconhecer o indivíduo. Mas a máscara branca protegia a sua identidade. Observou o corpo, mas o jaleco escondia a forma física. Só podia ver o cabelo. Ahh, e que cabelo. Corte curto. Raspadinho na nuca. Talvez máquina 3 no topo e 1 dos lados. Não teve muito tempo para pensar ou analisar. Recebeu um comando e apenas acatou.
- Deita e abre a boca.
O cagaço foi ainda maior. Nada de oi, tudo bem, qual é o seu nome? Pelo menos sentado ele conseguia disfarçar a perna trêmula. Agora ele tinha certeza, a mãe deveria ter ido junto. Um jato de luz veio ao seu encontro. Coisas estranhas entraram em sua boca. Um sugador, um espelho e até mesmo um gancho de pirata. Com a mão no bolso ele apertava a própria coxa para esconder o nervosismo.
O medo era ter entrado ali para resolver um simples dente e sair com um diagnóstico de diabetes, arritmia, pedra no rim, colesterol. Já estava pensando na vida após a morte. Como ele deveria ter aproveitado mais. Ter faltado aula para brincar. Ficado mais em casa com os pais. Todos aqueles momentos passando pela sua cabeça até que a voz interrompeu.
- Próximo.
O coração que já estava na casa dos 100 batimentos por minuto, disparou. A perna ficou bamba. Perdeu a força para se levantar. Respirou fundo, contou de um até três e foi. Tentou reconhecer o indivíduo. Mas a máscara branca protegia a sua identidade. Observou o corpo, mas o jaleco escondia a forma física. Só podia ver o cabelo. Ahh, e que cabelo. Corte curto. Raspadinho na nuca. Talvez máquina 3 no topo e 1 dos lados. Não teve muito tempo para pensar ou analisar. Recebeu um comando e apenas acatou.
- Deita e abre a boca.
O cagaço foi ainda maior. Nada de oi, tudo bem, qual é o seu nome? Pelo menos sentado ele conseguia disfarçar a perna trêmula. Agora ele tinha certeza, a mãe deveria ter ido junto. Um jato de luz veio ao seu encontro. Coisas estranhas entraram em sua boca. Um sugador, um espelho e até mesmo um gancho de pirata. Com a mão no bolso ele apertava a própria coxa para esconder o nervosismo.
O medo era ter entrado ali para resolver um simples dente e sair com um diagnóstico de diabetes, arritmia, pedra no rim, colesterol. Já estava pensando na vida após a morte. Como ele deveria ter aproveitado mais. Ter faltado aula para brincar. Ficado mais em casa com os pais. Todos aqueles momentos passando pela sua cabeça até que a voz interrompeu.
- Um mês...
A tristeza foi enorme. Apenas um mês de vida. Era câncer no cérebro. Sabia que a dor de cabeça aos domingos não era ressaca. Já começava a imaginar o discurso para os familiares e quem ia ficar com que. Para o pai, as revistas de adolescente. A mãe ficaria com os troféus da natação. Para o irmão caçula, nada. O moleque já tomou conta do quarto quando ele saiu de casa. Queria deixar alguma coisa para namorada, mas não tinha uma. Depois de alguns minutos conseguiu absorver a notícia e voltou a prestar atenção no homem da máscara.
- ...o tratamento da cárie custa em torno de 700 reais. Como disse, dura um mês. Vamos começar semana que vem. Assim que a minha secretária voltar de férias, ela liga para confirmar o melhor dia e horário.
No caminho de casa ele ficou pensando.
- Cárie? Cárie? Que sem graça.
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