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Mostrando postagens de julho, 2015

Escritor sem história

O relógio marcava 4:50am, Alan permanecia ali, sentando, fumando seu último charuto cubano e olhando fixo para a tela do computador. Falava para si mesmo - Só preciso começar. Qualquer palavra. Qualquer coisa. Uma hora a ideia aparece. - Baforou uma enorme quantidade de fumaça e continuou ali, parado.             Aquela altura do campeonato pedir calma não ajudaria. Alan é um famoso escritor de um tradicional jornal da sua cidade. Escreveu muitas histórias durante anos e anos. Mas com o tempo foi perdendo o brilho e o talento. A crise financeira estava varrendo todo mundo. Ele sabia que mais cedo ou mais tarde seria o próximo a dizer adeus. Não era hora de vacilar. A idade não permitia isso. Tinha que entregar a sua história as 6 da manhã para ser aprovada as 6:10, revisada as 6:20, aprovada de novo as 6:30,  enviada para os publicadores as 6:40, revisada na tela do site as 6:50 e publicada as 7 em ponto. E já era 5 horas.              Depois de mais uma baforada escreveu sua primeir

Amigos

Era de costume aos sábados, por volta das 19 horas,  Roberto atravessar a rua de casa e sentar no bar para tomar uma gelada e comer o famoso feijão com torresmo do seu Batista. Gostava de ficar sozinho refletindo a vida, a carreira, a família e a morena que passava sempre por ali na volta do salão. A única coisa que ele falava naquele momento de concentração era - Batista, mais uma, por favor -  Batista era o dono do bar. Conhecia tão bem o Roberto que já deixou levar algumas garrafas para casa e devolver no dia seguinte.             Já era final do expediente do Roberto. Ele estava levantando para ir até o balcão e acertar com seu Batista.              - Roberto?              Olhou para lado e não reconheceu a voz.              - Roberto!! Você por aqui? Quem diria em...              Roberto não desviava o olhar. Roberto não piscava. Roberto não movia. Ali ficou. Parado como se tivesse hipnotizado. O homem da voz levantou, abriu os braços e foi em direção ao Roberto - que nada

Banco é tudo igual

Quem nunca leu ou ouviu que pesquisadores de uma universidade lá da casa do baralho descobriu algo novo na ciência? Quase todos os dias a gente escuta isso. Nunca duvidei dessas pesquisas. Juro!              Tá certo que ao longo dos anos tenho visto muitas coisas estranhas. Pesquisadores da Universidade de Tal Lugar descobre que ficar acordado 12 horas 30 minutos 39 segundos faz bem para o calcanhar do pé direito. Ou melhor, pesquisadores da Universidade do Outro Lado do Mundo descobre uma nova vacina contra  λαβυρινθίτιδα.  O importante dessa história toda é que a ciência está evoluindo a cada dia. Mesmo não entendendo muito bem e nem sabendo exatamente a sua procedência.              De tanto viver nesse mundo de pesquisa resolvi fazer a minha. E agora vou compartilhar com você o que talvez seja a maior descoberta da humanidade até o momento. Um dia, quem sabe, venha perder para o enigma do ovo e a galinha. Eu disse, um dia.  O que você vai descobrir ali na frente não é um fato

Futebol

Ele odeia ficar explicando lance a lance do jogo. Principalmente em clássico. Mas como era a sua patroa, não tinha como escapar.              - GOL! GOL! - comemorou a mulher.              - Não, Maria. Não. Gol do adversário. A gente ataca pra direita.              - Ah!              - Falta! Vermelho! Vermelho! - berrou a mulher.              - Não! Tá doida? Ele é nosso jogador. Estamos de branco hoje. BRANCO!               - Aaaah tá. Desculpa. Tinha que ter falado a cor da camisa antes.               - Visitante joga com o segundo uniforme pra não confundir.              - Agora tá mais claro. Time ruim!               - Pênalti! - gritou a mulher.              - Sim, Maria! Pra eles. A gente ataca pra esquerda.              - Direita ou esquerda? Escolhe.              - Mudou. Segundo tempo já.               - Ah! GOL! Pera, você trocou de jogo?              - Não. Terceiro uniforme é azul. Marketing de lançamento. Estamos de AZUL!              - Que